Soterrados

Soterrados

Estava indo dar aula ontem bem cedinho e, como de costume, ouvia a rádio Band News, que eu adoro.
Parada num sinal, me emocionei com o resgate do nono mineiro soterrado no Chile. Me emocionei com os aplausos, com os sessenta e nove dias debaixo da terra, com a alegria da família em rever um ente querido, vivo por um milagre.
Por um minuto eu também queria estar lá para aplaudir. Para ver a esperança transformada em vitória; para ver o escuro se transformar em luz; para ver a fé se transformar em coragem, e a coragem se transformar em força.
O sinal abriu e eu segui pensando nos outros tantos soterramentos sutis, simbólicos, que escurecem e aprisionam a vida, às vezes uma vida inteira: o CTI, a coma alcoólica, a agressão física, o abuso sexual, o abuso psíquico, o assédio moral. Sem falar nos outros tipos de escuridão, mais brandos mas nem por isso mais fáceis de se viver:  um casamento ruim, um filho rompido com pai, traição, falta de dinheiro, separação.
A esperança é que a luz um dia se acenda, clara como uma cápsula salva-vidas, Fênix renascendo das próprias cinzas.