Saudade

Saudade

“Dentro de cada pessoa tem um cantinho escondido… Decorado de saudade….”
Deliciosa essa música da Marisa Monte. E verdadeira também.
Se você olhar pra dentro de você, também vai encontrar um cantinho escondido. Ou escancarado, talvez. Quem sabe arejado? Florido? Já sei: um cantinho trancado a sete chaves…
Eu tenho um cantinho iluminado. Saudade de vó, sabe o que é isso? Vó que rima com xodó e pão-de-ló. Vó que é mãe com açúcar, abraço de urso, amor pra toda vida.
Quando ela morreu, eu tinha só quatro anos. Mas nossa ligação foi tão forte que eu fui crescendo lembrando de tudo, nos mínimos detalhes: o chinelo azul que eu insistia em calçar quando ia dormir na casa dela; os alegres passeios no Fusca azul (eu deitada lá atrás, no “buraco”, me divertindo com o formato das nuvens); o pirulito de açúcar alaranjado do Mercado Distrital; o chocolate Alpino que eu ia lambuzando sem pressa…
Não, vó, você não morreu. Está mais viva do que nunca nas minhas lembranças, nas minhas andanças, no nome da sua bisneta, na minha genética, iluminando o meu cantinho “decorado de saudade”…