Minhocas

Minhocas

Preocupada, roendo as unhas, Lucíola pôs-se a caminho do consultório de neurologia. Sua cabeça pesava de tanto pensar. Muitos pensamentos, um atrás do outro, se enroscando de forma confusa e acelerada. Tais pensamentos não diziam respeito apenas ao resultado da tomografia computadorizada que ela ia buscar. Junto à preocupação de ter um tumor no cérebro vinham outras questões, não tão graves e urgentes:
– Será que o namoro vai dar certo?
– Será que não está muito cedo pra conhecer a família dele?
– E aquela tatuagem no braço, o que que a minha mãe vai pensar?
– E se o namoro atrapalhar os meus estudos?
– E se ele só estiver querendo sexo?
– E se me enrolar vinte anos?
– E se me trair com a minha melhor amiga?
– E se, e se, e se?
Nesse exato momento, Lucíola ouve a voz da secretária:
– Lucíola Fernandes? Pode entrar.
Interrogatório interrompido. A pobre moça entra no consultório e encontra um Dr. Júlio um tanto quanto  abatido, preocupado.
– É grave, doutor?
– Fique calma, Lucíola. Não se trata de tumor nem aneurisma, mas é caso de cirurgia, e rápido.
Sua cabeça está infestada de minhocas.
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[Continua no próximo post. ]